“A destruição da Hidra de Lerna” - O controle e superação dos desejos. A maior prova
Conta a lenda que na antiga terra de
Argos ocorreu uma seca. Amímona que reinava nessas terras, procurou
ajuda de Netuno. Este reconheceu que se batesse numa rocha, e quando
isto foi feito, começaram a ocorrer três correntes cristalinas, mas
logo uma hidra fez ali sua morada. O Mestre disse a Hércules: “Para
além do Rio Amímona, fica o fétido pântano de Lerna, onde está a
hidra, uma praga para as redondezas. Nove cabeças tem esta criatura,
e uma delas é imortal. Prepara-te para lutar com essa asquerosa fera
e não penses que os meios comuns serão de valia; se uma cabeça for
destruída, duas aparecerão em seu lugar.”.
Hércules estava ansioso e antes de
partir, seu Mestre ainda lhe disse: “Uma palavra de aconselhamento
só, posso dar. Nós nos elevamos nos ajoelhando; conquistamos nos
rendendo, ganhamos, dando. Vai ó filho de Deus e filho do homem, e
conquista”.
Chegando ao estagnado pântano de
Lerna, que era um charco que desanimava quem dele se aproximasse e
cujo mau cheiro poluía toda a atmosfera em um raio de sete milhas.
Hércules teve que fazer uma pausa, pois o simples odor por pouco o
derrotava. As areias movediças eram uma ameaça e mais uma vez
Hércules rapidamente retirou seus pés para não ser sugado para
dentro da terra que cedia. Finalmente ele descobriu onde se ocultava
a hidra.
Numa caverna de noite perpétua vivia a
fera, porém não se mostrava e Hércules inutilmente vigiava.
Recorrendo a um estratagema, ele embebeu suas setas em piche ardente
e as despejou diretamente para o interior da caverna em que habitava
a horrenda fera. Uma enorme agitação se seguiu e a hidra com suas
nove zangadas cabeças emergiu, chicoteando a água e a lama
furiosamente. Com três braças de altura, algo tão feio como se
tivesse sido feito de todos os piores pensamentos concebidos desde o
começo dos tempos. A hidra atacou, procurando envolver os pés de
Hércules que saltou e lhe deu um golpe tão severo que logo decepou
uma das cabeças, mas mal a horrorosa cabeça tocou o solo, duas
cresceram em seu lugar. Repetidamente Hércules atacou o monstro, mas
ele ficava cada vez mais forte. Então Hércules se ajoelhou, agarrou
a hidra com suas mãos nuas e a ergueu.
Suspensa no ar sua força diminuiu. De
joelhos, então, ele sustentou a hidra no alto, acima dele, para que
o ar purificado e a luz pudessem fazer seu efeito. O monstro, forte
na escuridão e no lodo, logo perdeu sua força quando os raios de
sol e o toque no vento a atingiram. As nove cabeças caíram, mas
somente quando elas jaziam sem vida, Hércules percebeu a cabeça
mística que era imortal. Ele decepou essa cabeça e a enterrou,
ainda sibilante, sob uma rocha.
Este Trabalho está associado ao signo
de Escorpião. O verdadeiro teste de Escorpião nunca tem lugar antes
que o estudante fique coordenado, antes que a mente, a natureza
emocional e a natureza física estejam funcionando como uma unidade.
Então o homem entra em Escorpião onde seu equilíbrio é
subvertido, e o desejo parece exagerado, quando ele pensava que se
havia livrado dele. Aqui ele descobre que a personalidade não deve
ser morta, nem pisoteada, ela deve ser reconhecida como um triplo
canal de expressão para três aspectos divinos. Tudo depende se nós
usamos a tríplice personalidade para fins egoístas.
Em Escorpião o Ego está determinado a
matar o pequenino ego para ensinar-lhe o significado da ressurreição.
Em Escorpião o homem é testado para ver quem vai triunfar., o Eu
Superior ou o eu inferior, o real ou o irreal, a verdade ou a ilusão.
Foi dito a Hércules que entrasse a hidra de nove cabeças que vivia
num fétido e úmido pântano. Este monstro tem sua contraparte que
habita nas cavernas da mente, nas regiões subterrâneas do
subconsciente, ora calma, ora explodindo em tumultuado frenesi, a
fera estabelece morada permanente. Não é fácil descobrir sua
existência e lutar contra um inimigo tão formidável, é de fato
uma tarefa heroica para o homem. Uma cabeça decepada, e eis que
outra cresce em seu lugar. Toda vez que um desejo ou pensamento baixo
é eliminado, outro toma seu lugar. Hércules fez três coisas: ele
reconhece a existência da hidra, procura pacientemente por ela, e
finalmente a destrói. É necessário ter discriminação para
reconhecer sua existência, paciência para descobrir sua toca,
humildade para trazer os lodosos fragmentos do inconsciente à
superfície, e expô-los a luz da sabedoria.
Enquanto ele lutou no pântano, em meio
à lama e às areias movediças, ele foi incapaz de eliminar a hidra.
Ele teve que erguer o monstro no ar, isto é, deslocar seu problema
para outra dimensão para poder resolvê-lo. Com toda humildade,
ajoelhando-se na alma, ele teve de examinar seu dilema à luz da
sabedoria e na elevada atmosfera, por mais terrível que possa
parece, possui uma joia de grande valor.
Nenhuma tentativa para dominar a
natureza inferior e descobrir aquela joia, jamais será fútil. A
cabeça imortal, separada do corpo da hidra, é sepultada sob uma
rocha, isto implica que a energia concentrada que cria um problema,
permanece, purificada, redirecionada e aumentada após a vitória de
ser conquistada. Tal poder deve ser corretamente canalizado e
controlado. Sob a rocha da vontade persistente, a cabeça da hidra
representa um dos problemas que assaltam a pessoa corajosa que busca
conquistar o domínio de si mesmo.
Três destas cabeças simbolizam os
apetites associados com o sexo, o conforto e o dinheiro. Os próximos
três dizem respeito as paixões do medo, do ódio e do desejo de
poder. As últimas três cabeças representam os vícios da mente não
iluminada, orgulho, segregação e crueldade.
As dimensões das tarefas que Hércules
empreendeu são assim claramente aparentes. Ele teve de aprender a
arte de transmutar as energias que tão frequentemente precipitam os
seres humanos em tragédias. As nove forças que desde os princípios
dos tempos trouxeram destruição entre os homens, tiveram que ser
redirecionadas e transmutadas.
Ainda aspiramos à conquista espiritual
que Hércules alcançou. Os problemas que surgem do mau uso da
energia conhecida como sexual, ocupam nossa atenção a cada
instante. O amor ao conforto, à luxúria e as posses externas ainda
cresce. A luta pelo dinheiro como um fim em vez de um meio, reduz as
vidas de incontáveis homens e mulheres. Assim a tarefa de destruir
as primeiras três cabeças continua a desafiar as forças da
humanidade, milhares de anos depois de Hércules haver realizado seu
extraordinário feito.
As três qualidades do caráter que Hércules
teria que expressar eram a humildade, a coragem e a discriminação.
Humildade para ver seu compromisso objetivamente e reconhecer suas
falhas, coragem para atacar o monstro que jazia enroscado nas raízes
de sua natureza, discriminação para descobrir uma técnica para
enfrentar seu inimigo mortal.
Blibliografia: Os 12 Trabalhos de Hércules - Alice A. Bailey
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