“A captura do gado vermelho de Gerião” - A transcendência da animalidade, a salvação
O Mestre chamou Hércules e disse-lhe: “Tu agora estás diante do último Trabalho. É o que falta para que o ciclo seja completo, e a liberação conquistada. Vai até aquele lugar sombrio chamado Eritéia onde a Grande Ilusão está entronizada, onde Gerião, o monstro de três cabeças, três corpos e seis mãos é rei e senhor. À margem da lei ele mantém um rebanho de gado vermelho-escuro. De Eritéia deves trazer até nossa Sagrada Cidade, este rebanho. Cuidado com Euritião, o pastor, e seu cão de duas cabeças, Ortus”. E depois de uma pausa continuou: “ Mais um aviso posso dar, invoca a ajuda de Helio.” Hércules partiu e no templo fez oferendas a Helio, o deus do fogo e do sol. Por sete dias Hércules meditou, e depois mereceu dele um favor. Um cálice dourado caiu no chão aos seus pés. Ele sentiu no seu íntimo que este objeto brilhante o capacitava a cruzar os mares para alcançar o país de Heritéia. E assim foi. Sob a segura proteção do cálice dourado, ele velejou pelos mares agitados até chegar em Heritéia.
Numa praia daquele país distante,
Hércules desembarcou. Não muito longe dali ele chegou a um pasto
onde o gado vermelho-escuro pastava. Era guardado pelo pastor
Euritião e pelo cão de duas cabeças, Ortus. Quando Hércules se
aproximou, o cão lançou-se como uma flecha para ele, rosnando
ferozmente, tentando alcançá-lo. Com um golpe decisivo Hércules
derrubou o monstro. Então Euritião, amedrontado pelo bravo
guerreiro que estava diante, suplicou para que sua vida fosse
poupada. Hércules concedeu-lhe o pedido. Conduzindo o gado vermelho
sangue adiante dele, Hércules voltou sua face para a Cidade Sagrada.
Ainda não estava muito longe daquelas pastagens quando percebeu que
o monstro Gerião vinha em louca perseguição. Logo Gerião e
Hércules estavam face a face. Exalando fogo e chamas de todas três
cabeças simultaneamente, o monstro avançou sobre ele. Esticando bem
seu arco, Hércules lançou uma flecha que parecia queimar o ar e que
atingiu o monstro em seu flanco. Tamanho foi o ímpeto com que fora
lançada que todos os três corpos de Gerião foram perfurados. Com
um guincho desesperado, o monstro oscilou, depois caiu, para nunca
mais se levantar. Hércules conduziu, então, o lustroso gado para a
Cidade Sagrada. Difícil foi a tarefa. Volta e meia alguns bois se
desgarravam, e Hércules deixava o rebanho para procurar aquelas
cabeças que se perdiam. Através dos Alpes ele conduziu o seu
rebanho, até a Halia.
Onde quer que o mal houvesse triunfado,
ele golpeava as forças do mal com golpes mortais, e corrigia a
balança em favor da justiça. Quando Eryx, o lutador, o desafiou,
Hércules o derrubou tão vigorosamente que ele permaneceu caído.
Novamente quando o gigante Alcioneu lançou sobre Hércules uma rocha
que pesava uma tonelada, ele a deteve com sua clave e a mandou de
volta, matando o agressor. Às vezes ele perdia seu rumo, mas sempre
se voltava , refazia seus passos, e prosseguia. Embora exausto por
este cansativo trabalho, Hércules por fim voltou. Quando chegou o
Mestre que o esperava, disse-lhe: “A joia da imortalidade te
pertence. Por estes Doze Trabalhos tu superastes o humano e te
revestiste do divino. De volta ao lar vieste, para não mais
partires. No firmamento estrelado o teu nome será escrito, um
símbolo para os batalhadores filhos dos homens, de seu imortal
destino. Os trabalhos humanos estão encerrados, tua tarefa Cósmica
começa”.
Este último Trabalho está associado
ao signo de Peixes. Hércules viajou, velejando até a ilha numa taça
dourada e quando lá chegou, ele subiu até o topo da montanha onde
passou a noite em oração. Matou o cão de duas cabeças mas não o
pastor. Ele também matou o dono daquelas paragens.
Aqui está a parte mais bela desta
história: Hércules colocou o rebanho inteiro na taça dourada, a
mesma que utilizará na vinda, e o levou para a Cidade Sagrada e o
ofereceu em sacrifício a Athena, a Deusa da Sabedoria. Esta cidade
sagrada consiste de duas cidades ligadas por um belo muro e um portão
chamado de Portão do Leão. Depois de que o gado foi entregue,
acabou-se o trabalho de Hércules.
Vamos pensar em Hércules como salvador
mundial. Ele vê a humanidade possuída por um monstro, um homem de
três cabeças, símbolo de um ser humano com os corpos físicos,
emocional e mental unidos. O simbolismos do gado vermelho é
claramente o dos desejos inferiores, o desejos sendo sempre uma
destacada característica da humanidade. Eles são guardados por um
pastor, que é a mente, o cão de duas cabeças, representando os
aspectos da matéria e o psiquismo. Está bem claro que Hércules
poupou o pastor: a mente ainda pode ser o pastor do gado, mas o cão
de duas cabeças, a natureza psíquica emocional e o aspecto
material, Hércules matou, o que significa que foram privados de
qualquer poder.
Bibliografia: Os 12 Trabalhos de
Hércules – Alice A. Bailey
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