“A morte de Cérbero” - A elevação da personalidade, a terceira iniciação
O Mestre disse a Hércules:
“Enfrentaste com êxito mil perigos, Hércules, e muitas conquistas
foram feitas. A sabedoria e a força te pertencem. Farás uso delas
para salvar alguém em angustia, uma presa de imenso e infindável
sofrimento?” E tocando gentilmente a fronte de Hércules, diante de
seu olho interno, surgiu uma visão. Um homem jazia sobre a rocha e
gemia como se seu coração fosse partir-se. Seu pés e mãos estavam
acorrentados, as fortes correntes que o prendiam estavam ligadas a
anéis de ferror. Um abutre, feroz e audacioso, mantinha-se bicando o
fígado da vítima, em consequência, uma corrente de sangue jorrava
do seu flanco. O homem elevava suas mãos acorrentadas e clamava por
socorro, mas suas palavras ecoaram em vão na desolação e eram
engolidas pelo vento.
A visão desapareceu e o Mestre falou:
“Aquele que viste acorrentado se chama Prometeu. Ele sofre assim a
muito tempo, e contudo, sendo imortal, não pode morrer. Do céu ele
roubou o fogo sagrado, por isto foi punido. O lugar de sua morada é
conhecido como Inferno, o reino de Hades. Pede-se que sejas o
salvador de Prometeu, Hércules. Desde até as profundezas, e de lá
o liberte do sofrimento”.
Hércules iniciou sua viagem descendo
sempre através das ligações dos mundos da forma. A atmosfera se
torna cada vez mais pesada, a escuridão crescia sempre. E contudo
sua vontade estava firme. Essa íngreme descida continuou por longo
tempo. Sozinho, contudo não absolutamente só, ele vagueava, e
quando ele procurou em seu íntimo ele ouviu a voz prateada da Deusa
da Sabedoria, Athena, e as palavras encorajadoras de Hermes. Por fim
ele chegou a um rio escuro e envenenado que as almas dos mortos
tinham que cruzar. Uma moeda tinha de ser dada a Caronte, o
barqueiro, para que as levasse para o outro lado. O visitante da
terra assustou Caronte, que levou Hércules ao outro lado, sem
lembrar-se de cobra-lhe. Hércules penetrou o Hades, uma nevoenta e
escura região onde as sombras, ou melhor, as conchas dos que haviam
partido, esvoaçavam.
Quando Hércules percebeu a Medusa, com
seu cabelo encaracolado com serpentes sibilantes, ele tomou a espada
e tentou atingi-la, mas só bateu no ar vazio. Ele seguiu pelos
caminhos labirínticos até chegar a corte do rei que governava o
mundo subterrâneo, Hades. Este inflexível, severo e com semblante
ameaçador, sentava-se em seu negro trono quando Hércules se
aproximou. “Que procuras, um mortal vivo nos meus reinos”? Hades
o interpelou. Hécules disse: “Procuro libertar Prometeu”. “O
caminho está guardado pelo cão Cébero, um cão com três grandes
cabeças, cada uma com serpentes enroladas em torno”, replicou
Hades. “Se puderes derrotá-lo com tuas mãos vazias, um feito que
ninguém jamais realizou, poderá libertar o sofredor Prometeu”.
Satisfeito com a resposta, Hércules
agarrou a primeira cabeça e a manteve presa em seus braços,
enquanto o monstro debatia-se. Finalmente sua força o cedeu e
Hércules seguiu até encontrar Prometeu em uma laje de pedra, em
dores atrozes. Hércules partiu as correntes e libertou o sofredor.
Este trabalho está associado ao signo
de Capricórnio, o mais misterioso dos doze.. Há dois portões de
importância dominante: Câncer, no que chamamos vida e Capricórnio,
o portão para o reino espiritual. Capricórnio é o portão que nós
finalmente passamos quando não mais nos identificamos com o lado
forma da existência, nos tornamos identificados com o espírito. É
isto que significa ser iniciado, uma pessoa que não põe mais sua
consciência na mente, ou nos desejos, ou no corpo físico. Ele pode
usá-lo se quiser, e o faz para ajudar toda a humanidade, mas não é
neles que focaliza sua consciência. Ele está focalizado no que
chamamos de alma, que é aquele aspecto de nós mesmos que está
livre da forma. É na consciência da alma que finalmente funcionamos
em Capricórnio, conhecemo-nos como iniciados, e entramos nos dois
grandes signos universais de serviço à humanidade. Em Aquário vai
lidar simbolicamente com animais em massa, neste Trabalho Hércules
vai ter o a tarefa de limpar as estrebarias de Augias, seu primeiro
trabalho como um discípulo mundial. Em Peixes vai capturar, não o
touro, mas todos os bois, introduzindo em nossa consciência a ideia
da universalidade do trabalho mundial, da consciência grupal, da
consciência e do serviço universal.
Capricórnio representa a terceira
iniciação, a primeira das iniciações principais. Quando o homem
lembra de que o destino da humanidade depende em grande parte da sua
vontade de colaborar na tarefa transcendental. Que ele se lembra de
que a lei é, e sempre foi, lutar, e que ela não perdeu sua
importância ao ser transportada do plano material para o espiritual.
Que ele lembre de sua própria dignidade, sua nobreza como um ser
humano, que deve emergir de seus esforços para se libertar de sua
servidão e para obedecer suas aspirações mais profundas. E que ele
jamais se esqueça da centelha divina que está nele, e que ele é
livre para desconsiderá-la, matá-la, ou se aproximar dela,
mostrando seu entusiasmo para trabalhar com ela e para ela.
Bibliografia: Os 12 Trabalhos de
Hércules – Alice A. Bailey
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