“A morte do Leão de Neméia” - Aprender a usar o poder e a coragem
Hércules descansando de seus trabalhos, desconhecia a próxima
prova. Sentia-se forte e passava os dias perseguindo a corça sagrada
até o templo do Senhor. Chegou um memento em que a tímida corça
conheceu bem o caçador que a perseguia, e mansamente submeteu-se ao
seu comando.
Assim, muitas e
muitas vezes, ele carregava-a junto ao coração e dirigia-se ao
templo do Senhor. Assim descansava o nosso herói.
Foi então que
lhe enviaram o 5º Trabalho e para executá-lo, Hércules armou-se
até os dentes, enquanto os Deses observavam-lhe os passos e as mãos
firmes e o olhar decidido. Porém, no fundo de seu coração havia
dúvida. “Que estou fazendo aqui”? Disse ele. “Qual é a prova,
e por que razão estou assim armado”? Soou um chamado, oh Hércules,
um chamado de profunda angustia. Seus ouvidos externos não
responderam a esse chamado, e contudo, o ouvido interno conhece bem
as necessidades, pois ouviu uma voz, sim, muitas vezes, falando-te da
necessidade e incitando-te a ousar mais. O povo de Neméia procura
tua ajuda, eles estão sofrendo muito. Notícias de tuas proezas se
espalharam. Eles te procuram para que mates o leão que devasta sua
terra e vítima seus homens”. “É dele este som selvagem que eu
escuto? É o rugido de um leão atravessando o ar que estou
ouvindo”?, perguntou Hércules. E o Mestre respondeu-lhe: “Vai.
Procura o leão que devasta as terras que se estendem além. O povo
desta terra vive silenciosamente a portas fechadas, não ousam sair
para as suas tarefas; não cultivam a terra, não semeiam. De norte a
sul, de leste a oeste ronda o leão, e nessa ronda furtiva apodera-se
de todos os que cruzam o seu caminho. Seu terrível rugido é ouvido
durante a noite e todos tremem por trás das portas trancadas. Que
farás tu, Hércules”? E Hércules, o ouvido atento, respondeu à
necessidade. Sobre o caminho ele depositou suas armas, retendo para
seu uso o tacape que cortara com suas próprias mãos de uma tenra e
verdejante árvore.
Ele acreditava
que o belo conjunto de armas tornavam-no pesado e retardariam seus
passos. Não precisaria de nada mais, a não ser o seu forte tacape,
e como ele e o seu coração destemido, caminharia a procura do leão.
Mandou avisar o povo de Neméia que estava a caminho e disse que
expulsassem o medo de seus corações.
Hércules andou
muito procurando o leão. Encontrou os habitantes de Neméia
escondidos atrás das portas fechadas, a não ser por alguns poucos
que se aventuravam a sair, movidos pela necessidade ou pelo
desespero. A princípio aclamavam Hércules com júbilo, depois com
dúvidas ao verem que ele estava desarmado. Diziam-lhe que fosse
buscar suas armas porque o leão era perigoso e forte, porém ele não
lhes respondia e continuava seguindo o rastro e o rugido do leão.
Perguntava aqui e ali onde estava o leão e alguém lhe disse que o
havia visto perto de sua toca e Hércules para lá se dirigiu, com
medo, mas destemidamente; sozinho, contudo não solitário, pois
haviam outros que acompanhavam seus passos, esperançosos.
Repentinamente, ele viu o leão, que ao ver Hércules como um inimigo
que não demonstrava medo, rugiu violentamente fazendo tremer as
árvores. Hércules correu ao encontro do leão, gritando loucamente.
O animal parou estupefato diante de uma proeza que ele jamais vira,
pois Hércules continuava avançando. De repente o leão deu meia
volta e correu, à frente de Hércules e desapareceu misteriosamente.
Hércules vasculhou todo o Caminho cuidadosamente até que descobriu
uma caverna de onde partiu um trovejante rugido. Ele penetrou na
caverna escura e saiu do outro lado, para a luz do dia, sem encontrar
o leão. Ali parado ouviu o leão às suas costas, na a sua frente.
“Que farei”? pensou, “esta caverna tem duas entradas e enquanto
eu entro por uma, o leão sai por outra e entra por aquela por onde
acabei de passar. Que farei”? “Não tenho armas. Como matar o
leão para salvar o povo de suas garras? Que farei?”
Enquanto
pensava, olhava ao redor buscando uma solução e ouvia o rugido do
leão. Então viu algumas pilhas de toras e gravetos em profusão.
Puxou-os e arrastou-os com toda a sua força, bloqueou ambas as
saídas, encerrando-se a si próprio e ao leão dentro da caverna.
Com as mãos nuas agarrou o leão, prendendo-o ao seu próprio
coração, apertando-lhe o pescoço. O hálito do leão queimava-lhe
o rosto, mas sem afrouxar suas mãos mantinha-o preso. Os rugidos
tornaram-se cada vez mais débeis, seu corpo amolecia e escorregava.
E assim, sem armas, com suas próprias mãos e sua própria força,
ele matou o leão, tirou-lhe a pele e mostrou ao povo do lado de fora
da caverna. /em triunfo, Hércules retomou ao seu Mestre, depositou a
pele do leão ao seus pés e teve permissão para usá-la em
substituição à velha e gasta pele que usava.
Este trabalho se
associa ao signo de Leão. O 5º Trabalho, o quinto signo. Este é o
trabalho mais conhecido de Hércules e se distingue por ser o de
número cinco, que contém em si mesmo um profundo significado.
No ponto de
vista do ocultismo, o número cinco representa o homem, porque o
homem é um divino filho de Deus, mais o quaternário que consiste na
sua natureza quádrupla inferior; o corpo mental, o corpo emocional,
o corpo vital e o corpo físico.
Em Áries, a
alma tomou para si o tipo de matéria que lhe permitiria entrar em
relação com o mundo das ideias. Revestiu-se de um envólucro
mental. O homem tornou-se alma pensante. Em Touro, fez o contato com
o mundo do desejo e seguiu-se um processo idêntico. Fez contato com
o mundo do sentimento e da emoção e o homem tornou-se uma alma
pensante. Em Gêmeos foi construído u8m novo corpo de energia vital,
através da reunião das energias da alma e da matéria, e o homem
tornou-se uma alma vivente. Em Câncer, que é o signo do nascimento
físico e da identificação da unidade com a massa, o trabalho da
encarnação foi completado e a natureza quádrupla manifestada. Mas
é em Leão que o homem se torna a “estrela de cinco pontas”,
pois essa estrela é o símbolo da individualização, da sua
humanidade, do ser humano que sabe que é um indivíduo e toma
consciência de si mesmo como “Eu”. Aqui a relação entre o
Quinto Mandamento com o Quinto Trabalho e o quinto signo torna-se
clara: “Honra teu pai e tua mãe para que teus dias se tornem
longos na terra que o Senhor, teu Deus, te deu”, pois em Leão, o
Pai-Espírito e a Mãe-Matéria se unem no indivíduo e dessa união
resulta aquela entidade consciente que é a alma. Leão é também o
signo no qual o homem autoconsciente começa seu treinamento para a
iniciação. Quando o trabalho deste signo termina, começa o
treinamento específico da iniciação, em Capricórnio.
O Leão de
Neméia representa essencialmente a personalidade coordenada,
dominante. Aqui o aspirante, o Leão de Judah, tem que matar o leão
de sua personalidade. Tendo emergido da massa, e desenvolvido a
individualidade, ele tem que matar aquilo que criou; tem que tornar
inútil aquilo que fora grande agente protetor até o tempo atual. O
egoísmo, o instinto de autoproteção, tem que dar lugar ao
altruísmo, que é literalmente a subordinação do ego ao todo.
Bibliografia: Os 12 Trabalhos de Hércules - Alice A. Bailey
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