sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Lendo ou Interpretando o Mapa Natal?


   Quem lê precisa saber o idioma em que está escrito, decifrar os códigos contidos na composição da linguagem, decifrar.
   Interpretar é um passo a frente, entender, trazer para si, elaborar, absorver e dar a sua visão dentro do que entendeu. Como acredito que cada um entende do seu jeito, sempre me apresento astrologicamente: Sol em Sagitário, Lua em Peixes, Ascendente em Aquário e um Stellium em Escorpião no Meio do Céu.
   Na Astrologia ainda temos um terceiro elemento que é o nosso interlocutor, o cliente, a pessoa que nos procura por uma infinidade de motivações, a que prefiro é a necessidade de ter uma visão cósmica das suas vidas, fugir das visões lineares e horizontais, campo minado pelos interesses e crenças religiosas, filosóficas e políticas, historicamente construída pela humanidade.
   Desde já se conclui que a função do astrólogo é um desafio hercúleo, contra ele mesmo, vão mortal habitante deste planeta, de um país que tem sua cultura e que enfrenta os mesmos desafios existenciais, espirituais e ideológicos como o resto dos humanos que vivem no seu tempo.
   Quando ensino astrologia, uma das primeiras questões que coloco, quando saímos dos conceitos e partimos para a leitura e interpretação, é a necessidade de exercitar a imparcialidade e saber que não estamos ali para dar as nossas opiniões, o máximo que se possa conseguir, porque a totalidade será quase impossível. O que proponho para cumprir este desafio é o envolvimento amoroso com a pessoa que está a nossa frente, sem respeito a sua individualidade e envolvimento afetivo com o nosso cliente nossa leitura será vaidosamente mecânica e conceitual, prejudicial e inócua para a pessoa que vem até nós.
   Outro desafio importante é a nossa vaidade, lembrar o tempo todo que somos só uma interpretação, dentre tantas, e que a nossa função é disponibilizar nossa visão deste conhecimento milenar, norteado por uma linguagem simbólica e de estudos sistemáticos ao longo de pelo menos seis séculos, ajudando a quem nos procura a ter uma visão macrocósmica da sua vida.
   Tenho visto com preocupação o uso da astrologia para afirmar ideias, preconceitos e conceitos reacionários, forma de expressar valores e achismos totalmente pessoais. Quando consciente esta prática pode ser um instrumento de controle e dominação, quando não, e é desta forma a maior parte das vezes pelo que observo, é um verdadeiro desastre para um bom trabalho do astrólogo e para quem o procura.
   Quando ensino, proponho aos meus alunos diversificarem suas leituras: mitologia, filosofia, história, arte, psicologia etc. Uma mente rasa fará interpretações superficiais e por isto pobres de utilidade, caem no limbo das adivinhações inócuas, nossa função não é prever e sim apontar as possibilidades dos ciclos, baseados nos estudos desenvolvidos a milênios, dos ciclos, trânsitos e aspectos, ajudar dentro deste conhecimento a pessoa se ver por um novo ângulo, simbolicamente, se conectar com os movimentos planetários para otimizar escolhas, metas e aspirações. Trazer para suas vidas cotidianas as energias do Universo através dos movimentos dos planetas do Sistema Solar através da eclíptica, estes sim objetos de estudos dos astrólogos, e de onde produzem previsões e possibilidades individuais, que nada mais são do que a análise daquilo que vemos no mapa junto com as informações que nosso cliente nos traz, sua realidade cultural, econômica, seus interesses e forma de viver, coisa que um consultor experiente decifra numa primeira olhada da pessoa a sua frente.
   Um astrólogo, segundo Donna Cunningham, só poderá assim se dizer depois de ter interpretado pelo menos 500 mapas natais, eu concordo, pelo simples fato que antes de nos qualificar precisamos praticar, apreender com a vida das pessoas, analisar como os ciclos se manifestam em cada uma, e como Ascendentes, Sol, Lua, Planetas Pessoais e Trans Saturninos nos diversos signos agem na vida real e suas infinitas conexões possíveis, e não nas descrições aprendidas nos nossos estudos enquanto “aprendizes de astrólogos”.
   Para ser um Astrólogo precisamos abstrair os conceitos internalizados nas nossas mentes, ter uma visão abrangente do universo simbólico que se apresenta num Mapa Natal. Ficar repetindo definições como a Lua em Áries é impulsiva, agressiva e imediatista emocional em vez de ajudar a pessoa a se ver como um todo orgânico, faz segmentar ainda mais sua visão sobre sua natureza individual. Um Mapa Natal não é uma pessoa, só uma indicação da sua natureza energética, que se manifesta numa circunstância histórica, política, social e cultural.
   Não existem Mapas Natais bons ou maus, o que existe é a busca de quem somos através dos ciclos planetários, dentro dos ciclos universais. Descobrir funções, desafios a serem enfrentados e com isto nos desenvolver ao longo da vida, com aceitação e sentido. Fazer valer!
   Não controlamos os acontecimentos, somos participes deste todo cósmico, e por isto o conhecimento dos ciclos e naturezas astrológicas podem ser de grande ajuda para termos uma vida plena e satisfatória.
   Lembro de uma professora, Lúcia Torres, dizendo: O Ascendente, O Sol e a Lua formam o triângulo da vida e daí, e com os aspectos, podemos tirar o “tema” do Mapa Natal de uma pessoa, e este será o princípio de toda nossa leitura e interpretação, que se dará quando o nosso cliente estiver na nossa frente, nos impregnando de sua presença, cheia de informações e signos, estimulando nossa sensibilidade, espiritualidade, capacidade de desvendar enigmas e conhecimento da matéria a que nos dedicamos.

   Particularmente acredito que não precisamos dominar uma infinidade de matérias astrológicas para fazermos um bom trabalho, mas é fundamental que dominemos Signos, Ascendente, Sol, Lua, Planetas Pessoais, Planetas Trans Saturninos, Aspectos, Casas Astrológicas, Trânsitos, Revolução Solar, Progressões e Sinastria. Ainda será necessário sintetizar, para que isto tenha uma função prática na vida das pessoas que tocamos. Evitar verborragias astrológicas, que só servem para exibirmos a nossa pertença erudição, sem nenhuma função na vida de quem vem até nós.
   

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